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24/10/2019Undime

Ministro da Educação abre conferência sobre alfabetização, não detalha plano para sua implementação e fala em 'surpresa'

Weintraub criticou 'doutrinação' na área e disse que a pasta pretende fazer treinamento familiar para auxiliar no letramento de crianças

O ministro da Educação, Abraham Weintraub , abriu nesta terça-feira a 1ª Conferência Nacional de Alfabetização Baseada em Evidências (Conabe), mas não detalhou o plano do governo para a implementação da política nacional sobre o tema. Weintraub não informou o prazo para que o projeto do MEC para a área seja colocado em prática e disse apenas que "quer começar ano que vem".

O ministro, que criticou o que chamou de "doutrinação" promovida por governos anteriores na área, afirmou que quando as crianças voltarem às aulas terão "uma surpresa", mas não explicou como a política deve chegar às escolas. Weintraub disse ainda que o MEC pretende desenvolver uma iniciativa de treinamento da família para alfabetização.

O MEC foi alvo de críticas de secretários municipais de Educação que se dizem excluídos do processo. Os municípios concentram mais de 80% das matrículas nos anos iniciais do ensino fundamental, quando acontece a alfabetização das crianças. Segundo o último resultado da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA), mais da metade dos alunos brasileiros do terceiro ano não sabe ler e escrever adequadamente.

O Relatório Nacional de Alfabetização Baseado em Evidências (Renabe), produzido por especialistas durante a conferência, vai ser um dos subsídios usados pelo MEC para a confecção. Ele será lançado em abril de 2020 para comemorar um ano do lançamento da Política Nacional de Alfabetização (PNA). A PNA propõe o método fônico para a alfabetização de crianças e jovens, ou seja, a associação entre o símbolo e seu som.

— Queremos começar no ano que vem. Assim que as crianças voltarem às aulas vão ter uma surpresa — afirmou o ministro, dizendo que é preciso usar a estratégia de Sherazade em "Mil e uma noites" e contar os detalhes "gradualmente".

— Estamos prevendo fazer um grande evento no dia 7 de novembro, junto com aniversário do General Villas boas. É um marco que faremos para educação: a alfabetização para literacia familiar.

Questionado sobre a iniciativa, o ministro afirmou apenas que o MEC pretende treinar as famílias para auxiliarem na alfabetização das crianças.

— (Queremos) Tirar o Brasil das trevas. Metade das crianças do Brasil no terceiro ano são analfabetas totais. Aí essas crianças começam a ser jogadas para fora do sitema educacional, porque a escola vira um tormento — analisou Weintraub.— E a abordagem que essa criança vai ter vai ser científica. Ela vai ser alfabetizada com a técnica adequada, e não doutrinada com dogmas de esquerda totalitários.

O governo tem criticado recorrentemente a utilização de métodos construtivistas em que se parte de textos e experiências sobre as funções da linguagem rumo a palavras, letras e sons. Autor de um método para alfabetização de adultos, o educador Paulo Freire , reverenciado mundialmente, também é alvo das críticas do governo. Durante a abertura da Conferência, Weintraub não citou nomes, mas disse que é preciso tirar "ídolos dos pedestais".

— Se os governos anteriores se preocupassem menos em doutrinar e educaar, porque quem educa é a família, e se preocupasse mais em ensinar a ler escrever e fazer conta, talvez o Brasil não estivesse em último lugar na América do Sul — criticou — Está na hora de ter humildade para reconhecer que falhamos como nação e retirar ídolos dos seus pedestais. A evidência é de que o Brasil é um desastre.

Falta de diálogo

Presente no evento, o presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Luiz Miguel Martins Garcia, criticou a falta de diálogo da Secretaria de Alfabetização com os municípios, que serão os principais agentes na implementação da política. De acordo com Garcia, a ausência de interlocução vai atrapalhar a implementação das diretrizes.

— A Undime foi ouvida uma única vez nesse processo, e estamos no processo de conhecer as propostas e como isso se concretiza. Precisamos observar como isso vai dialogar com tudo que foi construído até agora— disse Garcia. — A nossa preocupação é em como essa política chega no chão da escola. O percentual expressivo da educação infantil e da alfabetização está nos municípios. Temos 5.568 interlocutores com realidades muito peculiares. Nosso temor é que, com uma política gerada com tão pouca consulta às bases que a executam e efetivam, possa ter condições materiais de execução.

Em 2012, o governo federal lançou o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), que tinha o propósito de avançar na meta 5 do Plano Nacional de Educação (PNE), que determina que, até 2024, todas as crianças estejam alfabetizadas até o final terceiro ano.

'Evidências científicas'

De acordo com um relatório do MEC divulgado em 2017, em 2013 o Pnaic capacitou então cerca de 313.599 professores alfabetizadores em linguagem; depois, em 2014, foram 311.916 profissionais formados com ênfase em Matemática; em 2015, 302.057 professores receberam formação em Gestão Escolar, Currículo, a Criança do Ciclo de Alfabetização e Interdisciplinaridade; e, em 2016, foram formados 248.919 professores alfabetizadores e 38.598 coordenadores pedagógicos.

O secretário de Alfabetização do MEC, Carlos Nadalim, afirmou, no entanto, que essa é a primeira vez que o governo abre espaço para utilização de evidências científicas na área.

— Pela primeira vez, o MEC abre espaço para cientistas e evidências científicas. Temos um relatório de aprendizagem infantil elaborado pela Academia Brasileira de Ciências, o próprio relatório da Câmara sobre alfabetização, que agora nessa conferência ganha sua terceira versão, (também está sendo usado). Pela primeira vez, o governo federal acolhe esses relatórios em uma política de Estado. Não estamos inventando a roda, estamos simplesmente acolhendo experiências exitosas.

Fonte: O Globo/ Foto: Jorge William, O Globo

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